domingo, 10 de novembro de 2013

RELATO DE UM SER...



        

 Não sei o que fiz para passar por isso, não sei, que crime cometi para ser torturado e morto cruelmente, apenas pelo simples fato de estar vivo. Tento de todas as formas me defender, apesar que a única defesa que me resta é apenas fugir...de um lugar impossível de fugir. E nesse momento minha única visão é do inferno...Vejo humanos com lanças, facas e punhais... e o ódio no coração. E pergunto: Que crime cometi, deixem eu pelo menos tentar entender... que crime cometi? 
             Acabo de perder minha últimas forças em vão, minha vista está turva, e meu paladar o sabor de meu próprio sangue. Agora vejo o ódio em vultos, porém ainda ódio... já não sinto o vento, o sol, só a maldade e  dor, muita dor... e quem se importa? Eles se divertem, e eu estou morrendo aqui, é justo? E sem resposta pergunto, alguém me responda, que crime cometi? Ninguém responde, nos meus ouvidos só zumbidos e sons desagradáveis, entre aplausos, risadas sádicas e palavras de ódio direcionadas a mim... o que foi que eu fiz e onde está Deus? Porque me abandonas-te aqui na mão de quem me odeia, me diz o que foi que eu fiz para sofrer tanto? Aqui já sinto minha morte... mas ainda estou tentando... no fundo sei que é em vão...mas ainda estou tentado, e pergunto, onde está Deus?Por que me abandonaste? A resposta continua sendo apenas dor, muita dor.
           Me ajoelho sem forças em posição de submissão, não por minha vontade, mas pela vontade da falta de compaixão, piedade e principalmente pela maldade que habita aqui hoje.  Eles estão me matando...e cadê Deus?! Por um momento perco minha respiração, sinto meus pulmões se encharcarem do meu sangue... meus órgãos genitais acabam de ser cortados... minha dor já se faz parte integrante do meu ser, minhas orelhas a que me pertence, já não são minhas, acabam de ser cortadas também. Já não consigo distinguir do que é corpo e do que é dor, meu rabo foi mutilado violentamente, sem que ao menos pudesse protege-lo, pois esse fazia parte da minha morada chamada corpo.   E nesse momento ardendo em dor, pergunto, Deus o senhor não está vendo tal covardia com seu filho...ó pai...o por que me abandonaste, por que senhor? O que eu  fiz de tão ruim para pagar um preço tão alto? Eu nunca fiz mal a ninguém a não ser me defender durante minha vida terrena...e isso é justo!

            Sinto...minha hora está chegando, junto com a sensação de injustiça que abraça minha alma, e junto do abandono e da maldade daqueles que um dia pensei que queriam meu bem.  Agora já sem forças me deito, com meu corpo mutilado, como um manto, meu próprio sangue me acoberta, ele é o que me resta... meu próprio sangue! Nesse momento sinto uma pontada mais forte, a dor fala sozinha sobre meu corpo...meus olhos escurecem de vez...sinto meu corpo formigando, acho que estou morrendo... essa é a sensação, acho que estou morrendo...e ainda sim me pergunto, onde está a compaixão e a misericórdia? Pois nesse últimos momentos só me ofereceram o ódio, a irá, e o abandono...E nesse último suspiro como ser vivente, tenho direito de perguntar... Onde está  Deus?

          Homenagem a todos os touros inocentes, mortos na Espanha em uma matança injustificável chamado Touro de  La Vega.




    

           






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                                                                                                   Jota Caballero